Em
30 de agosto de 1875, numa Segunda-feira, Mossoró viveu o mais esdrúxulo de
seus movimentos libertatórios que foi “O Motim das Mulheres”. Naquela
data, cerca de trezentas mulheres saíram pelas ruas em passeata, com o objetivo
de protestar contra a obrigatoriedade do alistamento militar.
Tudo
começou quando o Gabinete do Visconde do Rio Branco aprovou o regulamento
do recrutamento para o Exército e Armada. Esse regulamento teve repercussão
desfavorável na Província do Rio Grande do Norte, onde várias comunidades se
levantaram em sinal de protesto. Ninguém desejava que seus filhos fossem
apanhados para o serviço militar, notadamente quando era sabido das intenções
dos chefes políticos dominantes em darem sua preferência a filhos de
adversários, como estava acontecendo em Mossoró. Desse modo, tomando
conhecimento de levantes que estavam acontecendo em outros municípios, as
mulheres mossoroenses promoveram uma manifestação e conseqüente passeata pelas
ruas da cidade, rasgando os editais afixados na Igreja Matriz de Santa Luzia e
dirigindo-se a casa do escrivão do Juiz de Paz de quem tomaram e rasgaram o
livro e papéis relativos ao alistamento. Partiram depois para à
redação do jornal “O Mossoroense”, onde destruíram cópias dos mesmos que ali
estavam para serem publicadas. Concluída a tarefa da destruição dos
editais, as revoltosas partiram para a Praça da Liberdade, onde entraram em
choque corporal com um grupo de soldados da Força Pública que ali estavam para
dominar a rebelião. Algumas saíram feridas, não se agravando mais o
movimento, graças a interferência de pessoas neutras que foram ajudar a acabar
com a confusão.
Encabeçando
o movimento estava Ana Floriano, uma mulher forte, de olhos azuis,
cabelos louros e estatura considerada acima do normal para o seu sexo,
juntamente com D. Maria Filgueira, esposa do Cap. Antônio Secundes Filgueira e
D. Joaquina Maria de Góis, genitora do historiador Francisco Fausto de
Souza.
Logo
após o movimento, o Juiz de Direito, Dr. João Antônio Rodrigues comunicou o
fato ao Presidente da Província, Bacharel João Bernardo Galvão Alcanforado
Júnior, que mandou instaurar inquérito contra a promotora do Motim das
Mulheres, cuja peça processual desapareceu do arquivo do Departamento de
Segurança Pública.
Em
seu depoimento, o Dr. João Antônio Rodrigues afirma que o movimento contou com
um número de cinqüenta a cem mulheres e que as mesmas eram lideradas por
D. Maria Filgueira, mulher do capitão Antônio Filgueira Secundes, 3º
suplente de Juiz Municipal deste Termo, juntamente com D. Joaquina de Tal e D.
Ana de Tal, que mal aconselhadas por seus maridos e parentes cometeram o
criminoso ato. O referido Juiz não admitia que o movimento tivesse partido das
mulheres e sim do capitão Antônio Filgueira Secundes, seu adversário político,
que assim procedera para lhe prejudicar. Quanto ao número das revoltosas? “De
cinqüenta a cem mulheres”, foi o que ele disse para diminuir a gravidade do
movimento. E quanto a D. Ana de Tal, tratava-se de D. Ana Floriano, assim
chamada por ser esposa de Floriano da Rocha Nogueira, pais do jornalista
Jeremias da Rocha Nogueira, Diretor proprietário do jornal “O Mossoroense”.
Francisco
Romão Filgueira, procer abolicionista de 1883, falecido a 7 de setembro de
1958, deu depoimento ao historiador Vingt-un Rosado sobre o fato por ele
presenciado. Segundo o mesmo, o movimento teria contado realmente com cerca de
trezentas mulheres e que as mesmas eram chefiadas por D. Ana Floriano.
O
historiador Raimundo Nonato registra que “ao tempo, Romão Filgueira era um jovem
impetuoso, rapaz de boa família, exaltado, que devia se encontrar no meio da
rebelião, agarrado no cós de sua mãe, Dona Maria Filgueira, esposa do
capitão Antônio Filgueira Secundes, figura de prestígio do município. O jovem
Romão Filgueira corria pela casa dos 16 anos fogoso e turbulento”.
GERALDO
MAIA – O MOSSORENSE
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